
Sempre considerei o bordado livre um universo de possibilidades ilimitadas. Mas não foi sempre assim, principalmente no início. Quando começamos a bordar, seguimos o básico. É o tempo de nos familiarizarmos com os pontos, com o tecido, descobrindo algo novo a cada dia, mas sempre dentro do roteiro tradicional.
Claro, você pode sempre seguir esse script do bordado, mas se a ideia é experimentar, ousar e criar algo inesperado, o bordado livre nos dá essa dimensão. É o que chamo de caos criativo do bordado livre – e eu amo esse caos.
Bordado livre x ponto cruz
Para ilustrar essa ideia, vou fazer uma comparação com o ponto cruz. Embora também seja possível subvertê-lo – e tem muita gente que o faz com maestria – o ponto cruz tem uma estrutura mais rígida, baseada na contagem de pontos, em seguir um gráfico. Já o bordado livre é caótico, e isso no melhor sentido da palavra.
Talvez seja algo como passar da borda, deixar a água transbordar do copo nesse processo de explorar novas combinações. E isso, à primeira vista, pode parecer um tanto quanto subversivo e deixar você com a impressão de que algo não está certo.
E aqui tenho que salientar que não existe essa coisa de certo ou errado no bordado. Por isso, vou dizer algo óbvio e redundante, mas que se faz necessário: no bordado livre você é livre. Você tem a liberdade de romper com o convencional, de ir além das aplicações do tradicional. É o caos criativo do bordado livre reinando absoluto!
Subvertendo técnicas e criando novas possibilidades
Quer um exemplo? O ponto atrás, aquele ponto que geralmente aprendemos primeiro porque é fácil – e que é a base do bordado à mão. Normalmente, ele é usado para contornos, letras simples ou o caule de uma flor. Mas quem disse que ele precisa ficar restrito a isso? No bordado livre, o ponto atrás pode ser usado para preencher formas – algo que eu nem imaginava quando comecei a bordar.
Outro exemplo: quem disse que apenas o ponto cheio pode ser usado para preencher formas? No bordado livre, outros pontos se tornam ferramentas para criar efeitos únicos e surpreendentes. Dependendo do efeito que você quer dar ao bordado, até o ponto cheio pode ser usado para contornos.
Além disso, dá para misturar diferentes pontos e técnicas em uma única peça. No bordado livre, o inesperado é bem-vindo. Em resumo: cada ponto é um convite para reinventar e exercitar a criatividade.
Bordado como expressão e resistência
Eu sei que praticamente estou fazendo uma ode ao bordado livre. Mas preciso dizer: mais do que entrelaçar linhas, o caos criativo do bordado livre é uma forma poderosa de expressão. Ele reflete sentimentos, inspirações e a necessidade de desafiar limites. O processo pelo qual uma peça é produzida também faz parte do significado do que a arte pretende causar.
Cada escolha – seja uma técnica, uma combinação de cores ou de pontos – é o que faz você dar vida à sua visão artística. Seja subvertendo linhas e pontos ou não, deixar o caos criativo do bordado livre embalar o seu fazer artístico é essencial para transformar linhas em arte e resistência.
O bordado está aí para ser vivido e reinventado – um ponto de cada vez. Então, me diga você aí: o que pretende fazer com essa liberdade caótica-criativa-subversiva do bordado livre?