Resistência é uma palavra que define bem o que é ser mulher. É um substantivo feminino que carrega em si a força da mulher. Por isso, nada mais natural do que explorar essa força por meio das artes manuais – uma atividade tão intrinsecamente ligada à condição feminina – ao transformar linhas e pontos em formas de expressão, que aqui chamo de agulhas da resistência.
Este blog nasce como um espaço para dialogar com mulheres que, como eu, encontram no artesanato uma maneira de subverter as estruturas que insistem em nos colocar em papéis secundários. Escapar do que nos é imposto como comportamento esperado torna-se, assim, essencial.
A agulha, companheira indispensável de bordadeiras, crocheteiras e costureiras, não é apenas uma ferramenta. Assim como a foice e o martelo (☭) foram apropriados pela luta dos trabalhadores, a agulha pode se tornar símbolo de resistência – um chamado à rebelião.
Bolha
Por décadas, as artes manuais foram vistas como sinônimo de submissão feminina, relegadas ao espaço doméstico e desvalorizadas. Apesar disso, ainda que lentamente, essa visão tem se transformado.
Reconheço, contudo, que vivo numa bolha. E, dentro dela, o discurso de igualdade soa quase como um consenso. Mas basta um pequeno passo fora desse universo – navegar numa “aba anônima”, por exemplo – para percebermos o quão minoritário é o nosso grupo, uma gota em um vasto oceano.
Ainda assim, acredito ser possível mudar o significado dessa atividade. Que ela permaneça feminina, mas não como símbolo de servilismo; que represente, ao contrário, liberdade, igualdade e luta por direitos. Que nossas habilidades sejam ferramentas não só de criação, mas de desconstrução de estereótipos e afirmação de nossa voz em um mundo que tenta nos silenciar.
Cada ponto bordado, cada nó da linha é uma declaração de resistência, de rebeldia. É a nossa maneira de mostrar que estamos aqui, fortes e ilimitadas. O artesanato transcende o material e se transforma em uma poderosa ferramenta de transformação social, um canal para expressar convicções e construir um mundo mais justo.
Este é um chamado à ação, um convite para que unamos forças nesta jornada de resistência e transformação. Que possamos criar um mundo além das bolhas, onde nossas vozes sejam ouvidas e nossas habilidades, valorizadas.
Junte-se à rebelião!